É preocupante olhar para a época em que vivemos e perceber que tudo gira em torno do “eu”, seja em uma busca desenfreada por aceitação ou por ter a razão. De todo jeito, tudo o que fazemos e almejamos é pensando em nós mesmos ou na imagem que os outros terão de nós. E eu gostaria de dirigir minhas palavras a nós, cristãos que buscam servir ao Senhor, essa visão de mundo e essa forma de viver tem afetado diretamente a Igreja, o Corpo de Cristo.
Talvez você já tenha ouvido falar sobre “teologia da prosperidade”, que ganhou forma entre as décadas de 40 e 50. Consiste basicamente em “ter”, essa “teologia” defende que o desejo de Deus para a sua vida é a bênção financeira. E a receita para lucrar é dar todos os seus bens para a igreja e assim o Senhor lhe retribuirá em dobro. A ideia de ter bens materiais é algo que buscamos apenas para o nosso próprio bem, não é focado em prol dos necessitados, se assim o fosse compartilharíamos aquilo que já temos e não esperaríamos ter mais para doar mais. Felizmente, essa ideia já não é muito aceita, mesmo assim ainda faz estragos em algumas igrejas.
O que realmente está em alta hoje é a “teologia do coaching”, resumindo nas palavras de Pedro Pamplona: “o coaching utiliza de técnicas humanas num indivíduo que é o centro de tudo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes tem enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como palestras motivacionais da fé que confundem fé com força e vontade, evangelho com motivacionismo e Cristo com um palestrante. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal”. Sem contar que em muitas dessas “pseudo pregações” o palestrante fala do pecado não como se fosse pecado e sim, um defeito do ser humano com o qual temos que nos acostumar a conviver. Mais uma vez vemos que o foco está no próprio ser humano. Caso queira se aprofundar sobre o assunto eu indico a leitura do texto “Teologia do Coaching – A Substituta da Teologia da Prosperidade” de Pedro Pamplona (clica aqui).
Eu procurei, mas não fui capaz de achar um verso na Bíblia que me mostrasse que fomos feitos para aproveitar a vida. Ao contrário, achei diversos versículos que nos encorajam a viver uma vida de entrega. Nós, como Corpo de Cristo, poderíamos fazer muito mais se nos atentássemos em 3 pontos: fôlego de vida; coração novo e renovação da mente.
O fôlego de vida
“Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gênesis2.7). Não apenas nos formou, Deus também soprou em nós vida, esse sopro faz de nós uma alma vivente e não apenas um corpo ambulante. Ao olhar para essa verdade fica claro que temos em nós algo vindo do próprio Deus, Ele quis nos dar vida e vida em abundância como declarou Jesus (João 10.10). Uma vez que aceitamos Cristo como nosso salvador, essa verdade se torna ainda mais relevante. Significa que a minha vida já não é mais minha, nunca foi na verdade, mas agora, através de Jesus eu posso vivê-la para Deus, eu posso cumprir o propósito pelo qual fui criada. Fomos criados para a glória de Deus (Isaías 43.6-7; Romanos 11.36 e 1Coríntios 10.31). “O que não significa aumentar Sua glória, mas para revelar e oferecer Sua glória para nós como um presente para a nossa alegria… viva de modo que a grandeza de Deus seja exibida” (John Piper).
Um coração novo
“Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” (Ezequiel 36.26). Deus prometeu ao seu povo que faria uma nova aliança com eles, não mais escrita em tábuas de pedra, dessa vez seria impressa no coração dos seres humanos (Jeremias 31.33 e 2 Coríntios 3.3). Ter um novo coração não nos faz parar de pecar, mas torna possível dizer “não” para o pecado através da cruz de Cristo. Um novo coração é quebrantado, entendeu que é pecador e precisa de um salvador; curado, entendeu quem Deus é e se apropria da morte e ressurreição de Jesus; e consolidado, tem sua identidade inabalável pela fé que vem de ouvir e meditar a Palavra de Deus. Um novo coração nós permite amar ao Senhor acima de todas as coisas e o nosso próximo como Cristo nos amou.
Uma mente renovada
“E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2). Uma vez que nossas ações são produtos dos nossos pensamentos, a equação é simples, se queremos mudar nossas atitudes precisamos mudar nosso modo de pensar. Em Cristo temos a chance de levar nossos pensamentos cativos (leia mais sobre isso aqui) e de nos transformarmos a medida em que meditamos nas Escrituras. Exercite sua mente de duas maneiras práticas:
– busque o arrependimento, não estou falando sobre chorar amargamente pelo pecado (apesar de isso acontecer as vezes), mas falo sobre ter uma mudança racional de atitude, dar uma volta de 180º e mudar a rota, manter o caminho puro vivendo de acordo com a Palavra (Salmo 119.9);
– pense nas coisas do alto, encha sua mente da Palavra, Deus nos deixou um guia daquilo em que devemos pensar: “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês” (Filipenses 4.8). Viva além dos prazeres dessa vida terrena.
Não fomos feitos para aproveitar a vida
“Não façam nada por interesse pessoal ou vaidade, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo, 4não tendo em vista somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros” (Filipenses 3-4). Essa verdade precisa arder em nossos corações, precisa nos impulsionar a sair da nossa zona de conforto do “eu” e sem medo arriscar viver uma vida para a glória de Deus. Entender que fomos feitos para entregar! Entregar nossa vida a Deus, entregar glória ao nome dEle. Viver como Jesus viveu, ser um sacrifício. Desejarmos ser a resposta de oração de alguém, amarmos Jesus acima de todas as coisas e vivermos por Ele. Precisamos nos lembrar que o que fazemos importa para o Reino, é necessário aprender a governar nossos impulsos. Que possamos ter em mente que o fôlego de vida do Espírito Santo habita em nós, temos um novo coração e somos convidados a constantemente renovarmos a nossa mente. Somos testemunho vivo, somos representantes do Reino de Deus, podemos fazer mais… devemos fazer mais. Viva a única teologia que é real, aquela que coloca Deus como único que é digno da glória, não pelo o que Ele pode nos dar, mas por quem Ele de fato é.
“Viva de modo que a grandeza de Deus seja exibida”
– John Piper
JG